Com a primeira etapa do restauro realizada pela paisagista Nãna Guimarães na CASACOR Minas de 2021, Multicult investe esforços para reprodução fiel do projeto criado por Burle Marx na década de 50.

A maestria com a qual Roberto Burle Marx desenvolveu o projeto dos jardins do Palácio das Mangabeiras é notável em toda a trajetória do precursor do paisagismo moderno, que chega em Minas Gerais na década de 40. E foi ali, nos anos 50, que o paisagista recebeu a missão de Juscelino Kubitschek, então governador do Estado, de recobrir a área externa à edificação com um jardim que conectasse o espaço interno aos espaços de lazer e recreação do Palácio.

Foi dividindo o tempo-espaço de criação com Niemeyer, autor do projeto inicial do Palácio, que Burle Marx criou um tapete natural de vislumbre ímpar em 3,5 mil dos 5 mil m² que compõem a área do terreno. Observando e absorvendo cuidadosamente as referências naturais do entorno, Burle Marx transpôs aos jardins, em tons e nuances de vermelho, o minério de ferro da Serra do Curral e de toda a geologia da região. Ali também foram depositadas plantas em tonalidades roxas e amarelo vibrante, o que se encontra no pôr do sol em uma gradação cromática direcionada e instigante.

Jardins que se assemelham a uma pintura: organização em cores, volumes e texturas

Dada a proporção do projeto paisagístico, a proposta inicial de Burle Marx nunca fora implantada em sua totalidade e, com o passar do tempo e do uso do Palácio das Mangabeiras, houve bastante alterações nos jardins que podem facilmente serem considerados um patrimônio cultural da cidade de Belo Horizonte.

Uma parceria que uniu Codemge, Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, a empresa Novus 3D e a CASACOR Minas Gerais deu origem a um projeto que possibilitou o desenvolvimento de um passeio virtual pelas instalações externas do Palácio das Mangabeiras à época de sua inauguração, em 1955. A organização impecável das plantas marca o projeto que, visto de cima, se assemelha a uma pintura, uma estamparia e até mesmo uma tapeçaria, com cores, volumes e texturas da flora brasileira que ele nos ensinou a admirar e a usar.

Frame do passeio virtual pelo Palácio das Mangabeiras de 1955
Reprodução do Passeio Virtual pelo Palácio das Mangabeiras de 1955

Restauração dos jardins de Burle Marx: um retorno à história

Sob a ótica de João Grillo, o Palácio das Mangabeiras é uma joia da cidade e a restauração dos jardins trará luz sobre essa percepção. Ele conta que, apesar da beleza que já se observa nos jardins, a implantação dos canteiros não faz jus à grandiosidade do projeto e que esse restauro irá gerar orgulho em termos aqui um espaço vivo e dinâmico, aberto à visitação por meio do projeto do Parque do Palácio.

“O espaço que temos já é lindo, mas a demonstração do que ele pode vir a ser depois que o jardim original de Burle Marx estiver implantado nos deixa ainda mais encantados. Por isso, hoje, logo na estrada do Parque, podemos encontrar a versão estilizada do projeto do Burle Marx. É nossa meta conseguir restaurar os jardins originais”, relata João Grillo.

O ano de 2019 marcou um reinício para o desenvolvimento completo deste projeto, que logo na entrada do Palácio pode ser apreciado pelos visitantes. Assumindo a gestão do espaço, a Multicult leva não somente a CASACOR Minas para o Palácio das Mangabeiras, como também a premissa e o compromisso de um restauro gradual dos jardins.

A convite da Multicult, a paisagista Nãna Guimarães inaugurou a primeira etapa de restauro do paisagismo na edição de 2021 da mostra. Imergindo totalmente no universo de Burle Marx e sendo desafiada pela dificuldade de encontrar as espécies nativas brasileiras especificadas no projeto, Nãna executou com maestria a missão. Espécies como Agave, Bela Emília, Camará, Giesta e Trapoeraba Roxa passaram a reintegrar o viridário.

Jardim de Burle Marx, ambiente assinado por Nãna Guimarães para a CASACOR Minas 2021 (Daniel Mansur)

Na mesma edição, a fonte em dois níveis criada por Burle Marx compôs o projeto “Paninoteca e Jardim do Restauro” de Duo Arquitetos junto ao Droysen Tomich Paisagismo. Recuperada, a fonte ganhou um espelho d’água com espécies aquáticas, elevando a vida natural do espaço.

Para a realização deste projeto, a Multicult tem empenhado esforços e buscado parcerias que possam financiar a iniciativa. Sem investimento público, João Grillo ressalta que: “Nosso grande desafio é viabilizar financeiramente tanto o projeto de restauro dos jardins de Burle Marx, como outras ideias que queremos colocar em prática no Parque do Palácio. Nós não temos investimento público para a manutenção do espaço e parcerias com a iniciativa privada são muito bem-vindas. O que queremos fazer no Parque é um trabalho muito bonito, mas vamos precisar de tempo e principalmente de verba para executar”, conclui.

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